4 de janeiro de 2009

Blá!




Ali, debruçada sobre o batente da janela amarela, ela via o mundo. Não, ela não morava na Lua, nem tão pouco repousava no céu. A sua casa ficava numa rua comum, num bairro comum, de uma cidade comum. Mas seus sonhos... ah, eles não tinham residência fixa. Não tinham caixa postal, nem algoz. Eram livres. E quando ela recostava seus cotovelos no batente da janela amarela ela vivia o mundo...
O vento batia em seus cabelos, refrescando-lhe os pensamentos. Seus olhos tinham o brilho das estrelas, e a vida acarinhava sua face com um suspiro. Em seus sonhos, as palavras tinham cheiro de talco. Os beijos, gosto de morango. Os abraços eram como chocolate quente. Os sorrisos, coloridos. As casas não tinham chaves. E as pessoas já nasciam se amando. Era tudo tão genuíno, tão gostoso, que o sono vinha fácil. Então, sob a luz da Lua um anjo vinha a sussurar em seu ouvido palavras doces e gentis.
Ao se levantar, ela olhava para a janela amarela, como quem olha um amigo que não vê a muito tempo. Sempre aberta, a janela lhe prometia um abraço e lhe trazia a segurança que a vida não oferecia. A sensação de aconchego permanecia ao longo do dia. A certeza de que a janela não mudaria de lugar lhe satisfazia.
Os dias costumavam ser dificéis...