19 de fevereiro de 2008

O Sorriso de Um Homem

'Passa olhando pra cá, com um sorriso no canto da boca. Aquele tipo de sorriso que a gente esconde por receio de não ser correspondido. Se percebe o menor sinal de interesse, abre com todo esplendor aquela boca perfeita e surpreende a quem o vislumbre com um sorriso sedutor e perfeito. Um sorriso de corar a face. Seu porte atlético faz perder o fôlego. Seu visual descontraído sugere aproximação. Mesmo sabendo o que provoca, ele caminha. Deixa para traz um rastro de charme e perfume. '


Todos os dias ele repete o ritual. Tantas ruas para passar, e ele insiste em passar na minha. Parece querer me torturar. Sua pele morena de encontro ao sol, desafia a minha brancura. Sua sobrancelha espessa, seu cabelo desalinhado, sua barba por fazer... Nossa! Eu, aqui, sobressaltada e ele sorri. Sorri, um sorriso cheio de malícia. Um sorriso que não confirma e nem descarta. Um sorriso que cativa. Me pego pensando a respeito da vida dele. O que ele faz quando não desfila pela minha rua? Será que ele é médico? Professor? Personal trainer? Militar? Atleta? Dentista? Ai.. não sei. Será que é casado? Noivo? Meu Deus! Solteiro? Será? Será que ele pensa em mim? Digo, naquela mulher de cabelos escuros e olhos redondos que acompanha o seu caminhar? Que se perde no seu sorriso?

Ás vezes, torço pra que ele não volte. Mas se corre mais de três dias sem que ele apareça, quase enlouqueço. Como pode isso? O que há naquele sorriso? Há momentos em que chego acreditar que ele sabe o fascínio que exerce sobre mim, e até brinca com isso.

Fico quase louca quando ele veste aquele regata vermelha. A pele morena, a camiseta vermelha, o sorriso faceiro. Nossa! Ele quase sempre a veste, pra me provocar. Só pode! As vezes tenho a impressão de que ele veste meias trocadas, também. Será que não cuidam dele? Será que mora sozinho? Solteiro? Será? Não. Ele é muito gato pra estar solteiro ainda. Aquele sorriso... conquista qualquer uma. Me conquistou. Será que ele ainda não percebeu?

Outro dia fui até o portão. Levei a Natasha, minha cachorrinha, pra dar uma volta. Na verdade, fiquei mesmo foi fazendo uma horinha em frente ao portão até que ele passasse. Ele estava demorando. Logo naquele dia em que tinha me produzido toda, no maior estilo esportista: malha justinha, rabo de cavalo, tênis. Propositalmente, deixei a Natasha escapar quando ele apontou na rua. Ela passou correndo por ele que agarrou a corrente dela e a devolveu pra mim. Agradeci. Nossa ele estava muito cheiroso. Não resisti e suspirei. Ele riu. Fiquei corada. Aquele sorriso... aff! Ele piscou pra mim e se foi. Disse que estava atrasado. Passei o resto do dia suspirando.
Todos os dias que se seguiram, voltei à varanda na expectativa de revê-lo, e nada. Será que ele se mudou? Será que não gostou de mim, quando me viu de perto? Coincidência ou não ele sumira depois daquele dia em que me aproximei. Será que sofrera algum acidente? Será? Fiquei super preocupada com ele. Até o coloquei nas minhas orações.

Já estava cansada de esperar por ele. Resolvi não ir ate à varanda naquele horário. Resolvi me voltar para o livro que estava escrevendo. Aquele romance precisava estar pronto nos próximos 30 dias, e ainda faltavam cerca de 100 paginas. Me dedicando cerca de 18 horas por dia, consegui terminar o livro. Me inspirei naquele moreno de sorriso conquistador para criar o mocinho de "O Sorriso de Um Homem". A editora resolveu lançar o livro na "Cores e Livros", e fui convidada a fazer uma noite de autógrafos. Já estava entediada com aquilo. Sorrisos forçados, mão dolorida, mas fazia parte do meu oficio. Estava de costas, quando ouvi uma voz rouca me pedir para que autografasse um exemplar para sua irmã. Quando me virei, fiquei surpresa: o moreno de sorriso conquistador estava a minha frente. Milhões de pensamentos tomaram minha cabeça. Será que meu visual estava interessante? Ainda bem que resolvi vestir aquele vestido, minha mãe o considerava sexy. Será que ele também o viu assim? Autografei o exemplar com o maior gosto, ele sorria e falava sobre o quanto sua irmã era minha fã. Quando lhe entreguei o exemplar premiado com uma hiper dedicatória, ele me ofereceu um cartão. Pediu, sussurrando, que eu só o lesse depois que a noite de autógrafos terminasse. Assim o fiz. Mesmo ansiosa, resisti. Terminada a sessão, abri o cartão. Qual não foi minha surpresa quando em meio a uma caligrafia perfeita, li as seguintes frases: "Te espero amanhã. Em frente a sua varanda. Beijos,Arthur". Sim, ele me reconheceu. Como se não bastasse ter me atormentado todos esses dias com lembranças daqueles sorriso, e devaneios com sua pessoa, agora ele me enchia de suspense e me fazia querer que a noite voasse, pra que a manhã chegasse logo.

Amanheceu. Levantei, tomei um banho, vesti uma malha, e fui pra varanda. Quando sai, logo o vi. Ele estava junto ao portão. Convidei-o pra entrar. O sangue corria pelas veias em alta velocidade. Estava quase ofegante. Ele também estava tenso. Estava quase insuportável aquela situação, quando ele me beijou. Sua boca era incrível. Lábios carnudos me envolviam. Aquele perfume de homem invadiu minhas narinas. Ele se afastou um pouco e sorriu. Aquele sorriso. Nossa! Fiquei bamba. Nos abraçamos e marcamos de nos ver novamente. Acho que alguma coisa nasceu ali. Pode até mesmo ser só uma aventura, mas uma coisa eu tenho certeza. Um sorriso sempre quer dizer alguma coisa. Ainda mais se for "O Sorriso de Um Homem".

15 de fevereiro de 2008

Nem tudo está perdido..

Acordou cedo, mas não quis se levantar. Gostava de ficar deitada, pensando na vida. Muitos planos começavam assim. Pensou no que tinha feito no dia anterior, e no que poderia fazer no dia que começava. Alguns pensamentos perturbadores lhe rondaram a mente. Como eles eram gostosos! Abraçou o travesseiro e espreguiçou. Bom diaaaa!!! Sentiu "aquele" perfume no ar. Como era possível? A mente. Oh mente. Sentiu um aperto no peito. Uma saudade. Decidiu tomar um banho gelado. O dia só estava começando.

Saiu de casa, indo de encontro a velha rotina. Como era cansativa. Mas no fundo lhe fazia bem. Ocupava-lhe a mente. Problemas? Haviam ali. Mas esses desviavam sua mente de "outras" questões. Essas doíam lhe a mente e o coração. Em ocasiões assim, sempre se lembrava de sua sábia avó: "Minha filha, o que não tem remédio, remediado está"! Procurava acreditar nisso e deixar o assunto morrer, mas nem sempre conseguia.

Passou o dia todo imersa em atividades corriqueiras e repetitivas, as quais sempre respondia automaticamente. Procurava se concentrar nelas, para assim garantir uma certa tranquilidade.
Já estava tarde quando conseguiu sair do trabalho. Passou pela padaria, comprou algo pro lanche da noite. E partiu rumo à sua casa. Ia pensando em como as coisas sempre aconteciam do mesmo jeito. Nenhuma novidade, nenhuma emoçao. Questionava se agira certo. E se justificava, dizendo não haver outra razão. Ele não lhe dera outra opção. Resolveu entrar numa livraria que ficava próximo a sua casa, quase nunca a vira fechada. Entrou, folheou algumas revistas. Decidiu comprar uma. Só tinha uma nota grande na carteira, o caixa não tinha troco. Voltou correndo ao carro, em busca de uns trocados que deveriam estar no porta-luvas - sempre os jogava lá. Revolvendo a papelada que havia lá. Entre recibos de banco, cupons fiscais, bilhetes de loteria e dinheiro, ela encontrou algo que mudaria a sua noite, talvez a sua vida. Escrito num papel simples, estava tudo o que ela esperava ter ouvido e não ouviu:

"B. , mesmo que você nunca encontre este bilhete ou que por algum motivo não mais estejamos juntos quando por acaso o encontrar, jamais se esqueça de mim. Mesmo sem nunca ter lhe dito isso... Mesmo que você não acredite... não há uma outra pessoa no mundo com a qual eu me preocupe mais do que com você. Não há pessoa mais interessante, inteligente e surpreendente que você. Talvez eu nunca tenha coragem de olhar em seus olhos, enfrentá-los e dizer o quanto lhe amo. Mas gostaria que você soubesse. Você já faz parte de mim. Te amo! E."

Seus olhos se encheram de lágrimas. Era tudo o que precisava saber. Entendeu o porque do perfume que sentira logo cedo. Ele esteve ali. Ele estava com ela, todos os dias. Mesmo que as coisas não tivessem caminhado como queria, agora ela sabia: ele a amava. Olhou para os céus e agradeceu a Deus. Gargalhou, sua avó estava errada, pra tudo havia uma solução. Pra Deus tudo é possivel. Fez uma prece por E.,onde quer que ele estivesse Deus o abençoaria. Voltou a livraria, os olhos ainda úmidos. Pagou pela revista e agradeceu à moça. Ela sem nada entender, consentiu. B. saiu feliz. Nem tudo estava perdido... amara e fora amada.

13 de fevereiro de 2008

Aqueles olhos...

... diziam mais do que ela imaginava!
Todos os dias ela passava por aquela mesma rua. Aquelas casas, aquelas pessoas lhe eram familiares, embora com nenhuma delas houvesse em toda sua vida trocado palavras outras se não "Bom dia!", "Boa tarde!" ou "Boa noite!". Todas aquelas pessoas faziam parte de seu itinerário monótono e cansativo, mas nenhuma delas fazia parte de sua vida, exceto uma.
Todos os dias aqueles olhos a perseguiam. Não que eles estivessem voltados para ela explicitamente, mas pela persiana, eles o fitavam. Ás vezes de esguelha, ela olhava para a janela daquele sobrado desbotado e maltratado, certificando-se de que ainda era vigiada, e com surpresa alguma confirmava aquele olhar sobre ela.
Desde que fora novamente ocupado, aquele sobrado vinha lhe incomodando. Seja pelo fato de não contar mais com a presença daquela simpática senhora que lhe oferecia bolinhos todos os dias - e que ela também simpaticamente os recusava, seja por aquele olhar constantemente pousado sobre ela, aquele imóvel vinha lhe tirando o sono.
No começo, ela teve medo. Pensou em chamar a polícia, afinal aqueles olhos não a deixavam em paz. Tinha consciência de que sua rotina facilitava aquela religiosa observação. Todos os dias era obrigada a passar por ali, mas quem se sentiria á vontade ao ser observado piamente, de maneira tão sorrateira? Desfez-se da idéia de fazer uma queixa após refletir sobre o que diria na delegacia: "Olha, vim aqui fazer uma queixa contra um vizinho que não pára de me olhar!". Não. Definitivamente, patético. Achou melhor redobrar o cuidado.
Ela procurava antecipar ou atrasar a sua saída em alguns poucos minutos, poucos mesmo, pois não poderia mexer consideravelmente em sua cronômetrada rotina senão isso lhe renderia atrasos no trabalho e não seria bom. Fato é que eles continuavam lá, seja qual fosse a hora em que ela passasse aqueles olhos estavam atentos. Aquilo a estava angustiando, resolveu então, indagar na vizinhança sobre os locatários daquele imóvel.
Após algumas palavras trocadas com Otílio, o morador da casa verde engraçada, que tinha uma caixa de correio em forma de côco verde (depois de quase dois anos morando naquela rua, essa era a primeira vez que ela o interpelava), descobriu que o locatário do sobrado gelo na verdade era o proprietário do imóvel. Parecia pouco comunicativo e nas poucas vezes que Otílio o viu saindo de casa, ele vestia ternos impecáveis, carregava uma maleta e usava óculos escuros, o que para ele caracterizava um advogado, executivo ou algo assim.
Ela tentou se tranqüilizar, achou que aquilo poderia ser um bom sinal. Tudo indicava que o dono daquele olhar era uma pessoa respeitável. Começou a fitar aquela janela, a encarar aquele olhar, com bons olhos. Poderia ser apenas um curioso, sei lá. Ou, talvez, ela, de alguma forma, chamou sua atenção. Decidiu se produzir melhor. Na quarta semana já sorria para aqueles olhos. Um sorriso de canto de boca, mas um sorriso. No trabalho, as pessoas lhe perguntavam o que teria acontecido, ela estava mais corada, mais disposta, mais bonita. Ela se sentia feliz. Claro que jamais assumiria para quem quer que fosse que o motivo de tal transformação se devia a furtivos olhares que um vizinho estranho lhe estava dirigindo. Mas sabia bem o quanto eles tinham sido essenciais para seu recente bom humor.
Qual não foi a sua surpresa quando, após três longos meses de expectativa e flerte, ela não o encontrou. Aqueles olhos não estavam lá. O que teria acontecido? Preocupou-se, quase se esvaiu em devaneios pessimistas, mas enfim ponderou, ele deveria ter tido um compromisso que o obrigou a antecipar-se. Seguiu adiante, afinal não poderia se atrasar. Passou o dia inteiro com aqueles olhos em seu pensamento. "O que há naquele olhar? Por que aquele olhar para mim? Por que sua falta me deixou assim?" Tentou afastar qualquer pensamento de sua cabeça alimentando-se com a perspectiva de que à noite, quando retornasse à sua casa, ao passar em frente àquele sobrado, os olhos estariam novamente ali, por trás das persianas a contemplá-la.
Depois do seu expediente diário, com ansiedade, desceu a rua de sua casa. O sobrado estava logo ali à frente. Mas, nada. Nenhuma olhadela. Nenhuma persiana entreaberta. Perplexa, ela seguiu em frente. Será que ela imaginava que isso nunca aconteceria? Sim, ela imaginava. Por isso não estava preparada. Chegou em casa, angustiada. "Por que ele não estava lá? Por que?" Passou a noite em claro, sem conseguir entender como a falta de um olhar a tinha deixado tão perturbada.
No dia seguinte ela arrumou-se novamente. E assim sucessivamente, dia após dia. Mas aquele olhar, nunca mais retornou. Ficou sabendo por Otílio, que agora já considerava um amigo e do qual a casa passara a freqüentar, que o sobrado estava á venda. Sentiu uma pontada de tristeza. Decidiu ir até lá. Bateu-lhe uma curiosidade a respeito daquele velho sobrado, daquele recente habitante. Talvez ele houvesse esquecido algo e ela poderia saber de quem eram aqueles olhos.
Num rompante, ela saltou um muro. Sentiu a adrenalina a mil, pois tinha a consciência de que estava invadindo uma propriedade alheia. Tentou a porta dos fundos e... ela estava aberta. Acho que nunca teria sido mais fácil invadir uma residência. Bisbilhotou a casa toda, parecia estar tudo no lugar. Alguns móveis, pouca coisa. Deixou por último aquele cômodo onde ficava a janela com as persianas. Ao cruzar a porta viu uma escrivaninha e em cima dela um envelope. Ansiosa pegou o envelope, no verso deste estava escrito "Para você". Começou a abrir, mas parou. Pensou bem. Aquela carta por acaso era sua? Como saberia? Estava enderaçada a VOCÊ. Mas VOCÊ poderia ser qualquer pessoa, então... poderia perfeitamente ser ela. E só haveria uma maneira de descobrir, abrindo aquele envelope e lendo o seu conteúdo. Numa caligrafia forte e legível, a carta dizia o seguinte:

Espero que esta carta se encontre agora, nas mãos da pessoa certa, VOCÊ.
VOCÊ...
... que todos os dias sai de casa logo cedo e só retorna a noitinha,
... que parecia tão triste e distraída,
... que mal cumprimentava as pessoas,
... que andava sempre muito discreta,
... que mirava todos os dias a minha janela, com um olhar carente,
... que me fazia rápida companhia no café da manhã e na ceia da noite,
... que de uma hora pra outra começou a produzir-se mais,
... que agora já parece disposta a estabelecer contatos com os vizinhos,
... que enfim descobriu o quão bela pode ser.
Para Você que escrevo.
Talvez, essa sua transformação se deva aos meus olhos curiosos que por ironia do destino cruzaram os teus numa manhã dessas. Melhor, talvez você pense que tudo se deve a isso, mas não. Não foram meus olhos que te fizeram mudar, e sim o que você viu neles.
Você viu que pode ser desejada, que pode ser bonita, que pode ser diferente. Viu o quanto a vida poderia ser melhor, bastava mudar um pouquinho. Talvez movida pela curiosidade a meu respeito, você começou a conversar com a vizinhança. Começou a alargar seus limites, a ampliar seu mundo. No começo você teve medo dos meus olhos, teve medo do que via neles, mas logo quis me conhecer. Mas você acabou fazendo melhor, passou a se conhecer. Sem querer você percebeu que tinha uma vida solitária, monótona. Veja só! Até ousou invadir minha casa!
Talvez, agora, esteja passando um filme na sua cabeça. Talvez, agora, você tenha perdido o interesse em me conhecer, não faz mal. O importante mesmo foi você ter se conhecido.
Às vezes a gente só precisa de uma oportunidade na vida. Uma oportunidade de se ver e fazer melhor. Você se deu essa chance! Agora vá! Você já viu nessa janela o que precisava ver. Vá ser feliz!

Tranquilamente ela dobrou a carta, guardou-a no envelope e a deixou sobre a mesa. Aquela carta não era importante. Aquela janela já não era importante. Aqueles olhos já foram importantes. Importante mesmo, agora, era seguir em frente. Era se amar. Era ser feliz! E ela, então, se foi! Pra onde? Ninguém nunca soube, mas há quem diga que ela tinha um sorriso no rosto, uma mochila nas costas e um ar de quem estava indo fazer o que sempre quis... voar!

10 de fevereiro de 2008

Chegou a hora de recomeçar...


Era como andar de bicicleta, novamente, depois de um tombaço. Nao tinha jeito, a vida sempre continua e o mundo jamais pára pra gente descer. Ela pegou suas chaves, sua bolsa e partiu em direção ao trabalho. No percurso praguejava como de costume. Seu carro estava a ponto de deixá-la na mão, mas o que fazer? Não tinha tempo, nem grana, nem outra maneira qualquer de resolver esse problema. Dirigia como uma louca, alheia à vida que existia ao seu redor. É sempre complicado recomeçar. Chegou ao trabalho, com o mesmo sorriso gentil nos lábios. Aquilo estava se tornando uma tortura. Manter as aparências, quem diria? Ela que sempre foi contra toda essa gentileza hipócrita do convívio social...aff! Vivendo, aprendendo, e digerindo! O dia transcorria monotóno como sempre. Pilhas de papéis sobre sua mesa, telefone tocando a toda hora, muita responsabilidade, pouco oxigênio e litros de cafeína. Estava exausta. Quase todos os seus pensamentos estavam direcionados à sua linda cama quente e fofinha. Seus olhos estavam tão pesados, tão pesados... Decidiu terminar o expediente por ali. Já era quase 8h da noite, estava muita cansada pra continuar. Não quis se aborrecer com o carro e decidiu pegar um táxi. Olhando sob uma ótima econômica-capitalista aquilo era uma loucura, o dinheiro gasto com o táxi, se aplicado, daqui a um ou dois anos, resultaria num montante equivalente a um novo motor pro carro. Mas, quem esperaria 1 ano, pode perfeitamente esperar 2 ou 3. Entrou naquele táxi de alma lavada. Pelo menos por ora não iria se chatear com isso. Permitiu-se olhar pela janela do carro, como se não houvesse nada com o que se preocupar... Como se não carregasse mágoa, dor, ou tristeza alguma... Como quem está aberto ao novo... Como quem se arrisca! A quanto tempo não se arriscava a nada...! Tanta gente lá fora e ela ali, trancada naquele carro. Pediu ao motorista que parasse, ainda faltava uma quadra pro seu destino, mas decidira fazer o restante do percurso a pé. Na hora que descera do carro, uma fina chuva começou a cair. Ela riu. E pela primeiva vez em bastante tempo, ria. Ria descontroladamente. Um riso solto, sem freio. Um riso qua a muito estava preso. Que ironia! Chuva!!! Precisava mesmo lavar a alma. Decididamente, era a hora de recomeçar!